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Livro mostra como Chico Buarque virou o alvo principal da censura e até enganou a ditadura, mas sofreu derrotas duras

2024-06-26 HaiPress

Chico Buarque após voltar do exílio na Itália,em março de 1971 — Foto: Rubens Seixas/Agência O GLOBO

RESUMO

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GERADO EM: 26/06/2024 - 04:30

Chico Buarque e a censura militar

O livro O que não tem censura nem nunca terá de Márcio Pinheiro revela como Chico Buarque enfrentou a censura da ditadura militar,ludibriando o regime em suas músicas e peças,sofrendo derrotas e vitórias marcantes. A obra destaca a luta do compositor pela liberdade de expressão artística em um período conturbado da história do Brasil.

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Um amigo em comum disse ao jornalista gaúcho Márcio Pinheiro que Chico Buarque odeia falar sobre os vetos que suas músicas sofreram durante a ditadura militar. Não tem motivos,sejam políticos ou artísticos,para se orgulhar do papel de inimigo número 1 da Censura,o órgão que tolhia a liberdade de criação.

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Mas foi esse posto que ocupou,como mostra Pinheiro em “O que não tem censura nem nunca terá”,livro que trata da repressão artística à obra de Chico durante a ditadura militar e está sendo lançado agora,neste período de celebração dos 80 anos do compositor,comemorados no dia 19.

Os embates começaram em 1966 com o veto ao samba “Tamandaré”,considerado ofensivo ao patrono da Marinha,o Marquês de Tamandaré. Em 1968,houve toda a polêmica em torno da encenação de “Roda viva”,a primeira peça de Chico,dirigida por José Celso Martinez Corrêa. O grupo autointitulado Comando de Caça aos Comunistas chegou a espancar atores. E,após temporadas tumultuadas em Rio,São Paulo e Porto Alegre,o espetáculo foi proibido em outubro.

Mas Chico se tornou o artista mais visado pela ditadura após ludibriá-la em 1970. Os censores não perceberam que “Apesar de você” não era um samba de amor,mas um recado ao regime. Quando foram alertados,a partir de notas na imprensa,determinaram a caça aos discos,que foram destruídos. Porém,mais de cem mil unidades já tinham sido vendidas.

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E Chico conseguiu enganar a Censura mais uma vez em 1974. Inventou o pseudônimo Julinho da Adelaide para lançar as músicas “Jorge Maravilha”,“Milagre brasileiro” e “Acorda,amor”. Ele mesmo fez saber,pelos jornais,que o personagem era uma criação sua. A partir de então,os autores passaram a ter de informar RG e CPF ao mandar suas obras.

— “Apesar de você” foi um drible clássico — define Pinheiro. — A letra falava de um período de ditadura,de tortura,sem dizer isso. Já o Julinho da Adelaide foi um drible de molecagem,um trote.

Chico Buarque: A letra de "Cálice" com anotações do veto da censura — Foto: Reprodução

Perdas e danos

Entre as duas vitórias que conseguiu,Chico teve derrotas dolorosas. Em 1973,ele e Gilberto Gil compuseram “Cálice” para o festival Phono 73,da gravadora Philips. Foram proibidos de cantá-la,Chico tentou dessa vez o drible de falar só a palavra-título (também entendida como “cale-se”),mas os microfones foram desligados pela gravadora,que seguiu a ordem da Censura,irritando-o profundamente.

Ruy Guerra (à esquerda) e Chico Buarque,em 1973,com o cartaz de Calabar ao fundo — Foto: Divulgação/Acervo Vavy Borges

No mesmo ano,“Calabar”,peça sua e de Ruy Guerra,foi proibida às vésperas da estreia,quando muito dinheiro já tinha sido gasto.

— E os jornais ainda foram proibidos de noticiar a proibição — acrescenta Pinheiro. — Tudo foi feito com sordidez.

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A estratégia usada no caso mostrava que a ditadura podia ser perversamente inteligente. O livro traz pareceres constrangedores de censores,mas nem todos eram imbecis,acredita o jornalista.

— Havia de tudo. Gente preparada,até sofisticada,os sádicos,os paranoicos. Eles gostavam de desempenhar o papel de censores,se deslumbravam — afirma.

Ao explicar a letra de “Jorge Maravilha”,do refrão “Você não gosta de mim,mas sua filha gosta”,Chico disse que era comum censores pedirem autógrafos dele.

— Muitos gostavam do Chico,mas eram educados para não gostar — diz Pinheiro.

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Em 1978,com a abertura política,foram liberadas “Apesar de você”,“Cálice” e “Tanto mar”. Em 1980,“Calabar” pôde ser encenada. Mas,disse Chico à época,o “prejuízo” já ocorrera.

Aos poucos,o compositor pôde se despir do papel de inimigo número 1 e priorizar a criação. A Censura ainda apareceu em 1983,quando vetou a palavra “pentelho” na “Ciranda da bailarina”. Mas aí dava até para rir.

— No fim,a censura deixou de ser política para ser comportamental,moralista — aponta Pinheiro.

‘O que não tem censura nem nunca terá’

Autor: Márcio Pinheiro. Editora: L&PM. Páginas: 224 . Preço: R$ 54,90.

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