2024-07-12 HaiPress
Javier Milei,presidente da Argentina — Foto: Milan Jaros/Bloomberg
GERADO EM: 12/07/2024 - 04:30
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O presidente da Argentina,Javier Milei,é economista e gosta de falar de economia. Ex-colegas de trabalho do chefe de Estado em grandes corporações lembram que Milei costumava passar horas fechado em sua sala com planilhas e números. Esse é o mundo no qual ele se sente confortável. A política,pelo contrário,é um mundo que Milei evita o máximo que pode,essencialmente porque não gosta dele. Quando não tem escapatória,choca os políticos tradicionais com suas declarações,decisões e posicionamentos. Já é hora dessa política tradicional,dentro e fora da Argentina,entender que a lógica de Milei é outra.
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Essa lógica não sai só da cabeça do presidente,que concentra seus esforços no que mais lhe interessa: encontrar soluções para a crise econômica. Milei espera que essas soluções se transformem em apoio da sociedade,essa é sua meta. Do resto,se encarregam duas pessoas essenciais no minúsculo círculo de poder argentino: a secretária-geral da Presidência,Karina Milei,irmã do presidente; e o jovem Santiago Caputo,que foi estrategista da campanha eleitoral de 2023 e se tornou braço-direito de Karina e do presidente nos primeiros meses de governo.
Caputo e Karina têm salas no primeiro andar da Casa Rosada e são dos poucos com acesso direto a Milei. Viajam com ele,têm influência em ministérios e organismos do Estado e concentram nas mãos as principais decisões do governo,junto ao presidente. Quando se trata de política,Caputo tem cada vez mais poder.
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Comenta-se nos corredores do palácio de governo que o estrategista e agora assessor presidencial é peça central no distanciamento entre Milei e o ex-presidente Mauricio Macri. Quando muitos esperavam uma aliança entre ambos,já pensando nas eleições legislativas de 2025,o presidente,assessorado por Karina e Caputo,fechou as portas do governo a Macri. Se,na campanha de 2023,o apoio do ex-presidente foi fundamental para o então candidato outsider,hoje Macri é carta fora do baralho. Mais uma vez,Milei não se rege pelas leis da política tradicional,nem pelo toma lá da cá. O ex-presidente está em baixa nas pesquisas,enquanto Milei mantém em torno de 50% de apoio. O cálculo,para seus estrategistas,é bem simples: esfriar a relação com Macri rende mais em matéria de imagem e redes sociais.
Karina e Caputo dominam o jogo político argentino,com um modus operandi que deixa os políticos locais desnorteados. A busca permanente de conflito,muitas vezes com jogadas ousadas,confirma que ambos continuam atuando como se Milei estivesse em campanha. O presidente,obcecado com a economia,segue o jogo de ambos. Se é preciso brigar com o presidente do Brasil,ou o da Colômbia,Milei vai em frente. Se o rival passa a ser Macri,como aconteceu esta semana,o presidente não titubeia.
Tudo o que servir para alimentar a narrativa de um chefe de Estado que está fazendo o que considera que deve fazer para tirar a Argentina do buraco é bem-vindo. Enquanto isso,Milei tenta conter a inflação,negociar com o Fundo Monetário Internacional e caminhar rumo à recuperação econômica. O resto é show — o mesmo que vimos na campanha de 2023.
Recentemente,o canal de TV Todo Notícias,do grupo Clarín,mostrou imagens de Caputo usando uma réplica do pin “mão do rei”,prerrogativa dos conselheiros reais na série “Game of Thrones”. Na série,quem usa o pin tem o poder de sentar-se no trono e governar na ausência do rei. No mundo de Milei,a simbologia importa,e muito. E Caputo sabe bem disso.