2024-07-30
HaiPress
Visitantes tiram fotos no Arco do Triunfo — Foto: Ludovic MARIN/AFP
GERADO EM: 30/07/2024 - 04:00
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Comparar experiências vividas em países distintos pode não ser justo,dadas as diferenças culturais. Mas é impossível não pensar nos Jogos da Rio-2016 quando se vive sensações tão distintas em Paris-2024 — Tóquio-2020 deve ser considerado um hiato olímpico devido às inúmeras restrições por causa da pandemia da Covid-19. E nossa conclusão chega a ser clichê: o parisiense não é muito amigo da simpatia.
Apesar de ter se passado quase uma década,a lembrança da competição na Cidade Maravilhosa é viva. Torcedores brasileiros,e também de outras nações sul-americanas,puderam,enfim,furar a bolha e assistir in loco a maior competição olímpica do planeta. As ruas do Rio ganharam o clima de Copa do Mundo,torcedores exibiam as cores de seus países,abraçavam suas bandeiras,trocavam pins (uma tradição no movimento olímpico) e festejavam dia e noite.
A gente sabe,não é fácil investir dinheiro para acompanhar um torneio deste porte. Os gastos são altos demais para a grande maioria da população. Mas,em casa,dava para pensar em comprar apenas os bilhetes. Nem que fosse daquela modalidade menos concorrida. O importante era fazer parte.
Mesmo com questões polêmicas como estouro no orçamento e reaproveitamento do legado,o brasileiro não só aproveitou a chance única (tão cedo não teremos outra na América do Sul) como mostrou que estava feliz com aquilo. Sabemos receber bem. Sabemos fazer uma boa festa.
Em Paris,não é bem assim. Embora o clima nas arenas seja festivo,a maioria dos parisienses não queria os Jogos Olímpicos. Pesquisa divulgada em março deste ano dizia que 47% dos moradores pretendiam sair da cidade. Não queriam mais turistas na capital,não queriam pegar o metrô mais cheio do que já é. Por enquanto,não se soube de gente jogando água nos estrangeiros como ocorreu na Espanha.
Outro dia,um parisiense nos disse que ia embora da cidade por uns dias porque não queria ficar mais naquela confusão. Foi aos Jardins Tuileries,como costuma fazer em dias ensolarados,e resolveu dar uma olhada na pira que está presa a um balão. Achou tudo lindo,mas prefere menos gente... Em um restaurante,uma atendente foi extremamente grossa ao ser perguntada,em inglês,sobre o cardápio para o jantar e se no local tinha Wi-Fi. Ela pedia que repetisse a mesma frase em francês. No metrô,um sujeito bufou ao ver a credencial de jornalista no pescoço. Quanto mau humor…
Moradores e comerciantes da área do Rio Sena,onde ocorreu a Cerimônia de Abertura,estavam vermelhos de raiva com tanta segurança e interdições. Motoristas de aplicativo idem,afinal,perderam clientes. Entendemos que há esse ônus,claro. E também sabemos que não é preto no branco. Tem brasileiro que odiou a Olimpíada em casa,como tem francês que tem aproveitado a competição em Paris.
Um francês de Nantes,que viveu por 20 anos em Paris,resumiu o sentimento que muitos franceses têm em relação aos residentes da capital. Em visita à cidade para assistir a algumas modalidades dos Jogos,celebrou o ambiente olímpico por três motivos: a segurança pelo policiamento ostensivo,o trânsito sem carros por causa das vias fechadas e a ausência dos parisienses que fugiram do lugar.
Uma coisa é fato,o clima receptivo e a festa do brasileiro não se encontra em qualquer lugar. Especialmente aqui,uma cidade maravilhosa também. Nos perguntamos: como pode ser tão mal humorado num lugar tão lindo como esse e com um evento tão bacana? Gente,só dura 15 dias.
