2024-08-20
HaiPress
Tripulação do voo inaugural — Foto: NASA/Robert Markowitz
GERADO EM: 20/08/2024 - 04:00
O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
LEIA AQUI
O que deveria ser uma viagem de cerca de uma semana à Estação Espacial Internacional (ISS,na sigla em inglês) para os dois primeiros astronautas da agência espacial americana,a NASA,a voarem a bordo da espaçonave Starliner da Boeing pode virar uma estadia inesperada de oito meses. Será que os dias de incerteza e ansiedade,presos à deriva no espaço,podem causar uma espécie de "viagem no tempo"? É o que a ciência tenta responder.
Entenda: Astronautas 'presos' no espaço têm oito dias de missão transformados em oito meses e devem passar Natal e Ano Novo em órbitaPerfil:Saiba quem são os astronautas 'presos' em aeronave da Boeing
Os astronautas veteranos Butch Wilmore e Suni Williams,ambos ex-pilotos de teste da Marinha dos Estados Unidos,foram selecionados para participar da a primeira missão tripulada da Starliner à ISS. A nave decolou da Flórida em um foguete Atlas V da United Launch Alliance em 5 de junho,após anos de atrasos e problemas de segurança,além de duas tentativas de lançamento abortadas com os astronautas já prontos.
Inicialmente,a missão deveria durar oito dias,mas foi estendida por tempo indeterminado. Agora,testes e tempo para examinar os problemas dos propulsores e os vazamentos de hélio impedem a volta dos astronautas.
Em situações extremas como esta,a espera pode ser a pior parte. Segundo a revista Live Science,esperar desacelera a percepção da passagem de tempo. Isso porque,em situações cotidianos,normalmente ignoramos o tempo: quanto menos pensamos sobre o tempo mais rápido ele passa.
Além disso,quando interrompemos nossas rotinas para esperar por algo,aquele se torna nosso foco principal. Sem ter outras atividades da vida agitada para que o tempo passe,frustração e tédio podem nos dominar.
Vista da paisagem da Ilha Livingston,nas Ilhas Shetland do Sul,Antártica — Foto: JUAN BARRETO/AFP
Para os astronautas presos na ISS,a realidade é ainda mais dura,já que o a espera não tem estimativa para acabar. Além disso,a dupla está submetida a uma situação de estresse extremo,sem contato com família e amigos,e poucas oportunidades de atividades. Todos estes seriam fatores que causariam o tempo a passar mais lentamente para Wilmore e Williams.
No entanto,um estudo realizado com pesquisadores em bases científicas da Antártica pode ajudar a entender como seres humanos se comportam com a espera em ambientes extremos.
Organizações ao redor do mundo frequentemente enviam cientistas de países como Argentina,Itália e França para missões isoladas na região mais fria da Terra. São 16 meses de solidão,com até seis meses de escuridão completa.
De acordo com a revista,a pesquisa investigou se o tempo na Antártica parecia passar mais lentamente para os cientistas,em comparação com antes da missão.
Em 80% das respostas,atividades e ocupações constantes ajudam o tempo a passar mais rapidamente. Ao contrário da expectativa de que o tempo se arrastaria em locais extremos e isolados,apenas 3% das pessoas confirmou essa impressão.
Os relatos referiam-se a noites longas e momentos em que não havia muito a se fazer,a explicou Live Science.
A Nasa negou em 26 de junho que os astronautas estivessem literalmente "presos" no espaço. Em transmissão ao vivo realizada um mês depois,os astronautas disseram estar confiantes de que fariam um retorno seguro a Terra,apesar dos problemas da espaçonave.
— Eu tenho um pressentimento muito bom no coração de que a espaçonave nos trará de volta para casa sem problemas — afirmou Williams,em sua primeira declaração desde o ocorrido.
No início desta semana,a agência espacial americana usou um foguete da SpaceX para entregar mais alimentos e suprimentos à Estação Espacial Internacional,incluindo roupas extras para os dois astronautas. Apesar de estarem em órbita para além do tempo estipulado,Williams afirmou na transmissão que ela e "Butch" estavam "muito ocupados,integrados à tripulação"
— É como voltar para casa. É bom flutuar por aí. É bom estar no espaço e trabalhar aqui com a equipe da Estação Espacial Internacional — disse a astronauta,acrescentando que é "ótimo estar aqui em cima".
A astronauta disse que eles continuavam aproveitando o tempo a bordo da ISS,realizando tarefas como trocar a bomba de uma máquina que processa urina de volta em água potável e realizando experimentos científicos,como sequenciamento genético no ambiente de microgravidade. Eles também testaram o Starliner como um veículo "porto seguro" em caso de problemas a bordo da estação e verificaram como seu suporte de vida funciona quando quatro pessoas estão dentro.
A gerente do programa da Estação Espacial Internacional,Dana Weigel,afirmou que os astronautas da missão da missão da Boeing estão "totalmente treinados" para uma rotação normal da ISS,citou o site Space.com,observando que no planejamento leva-se em consideração que um projeto em desenvolvimento pode se estender. Afirmou ainda que a Nasa dispõe de trajes especiais de tamanhos apropriados para Williams e Wilmore,caso surja uma necessidade extraveicular.
Sobre os alimentos,Weigel afirmou que a estação disponibiliza uma contingência de quatro meses de suprimentos que os astronautas da Boeing estão usando — em missões operacionais,os astronautas costumam ficar por cerca de seis meses,informou o Wall Street Journal,destacando que estação tem bastante comida e suprimentos. Bowersox,citado pela ABC News,observou que,embora seja útil ter braços extras na ISS,isso significa que os astronautas estão consumindo mais suprimentos.
