2024-09-04 HaiPress
Atenção plena — Foto: Freepik
GERADO EM: 04/09/2024 - 04:30
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Ainda somos aquele ser das cavernas,que comia tudo que via pela frente porque não sabia quando teria oportunidade de comer de novo. Que poupava energia,quando podia,porque a qualquer momento teria que sair correndo em fuga ou teria que lutar pela sua sobrevivência.
Somos aquele que plantava e colhia,e criava,e construía sua proporia moradia. Somos aquele ser que andava para percorrer,às vezes,a distância entre uma cidade e outra. E passou a percorrer a distância entre um bairro e o outro. E que passou a descer de elevador e esperar o carro na porta do prédio.
Esse é ainda nosso corpo e a forma como ele foi preparado para se comportar. E essa é mudança,que aparentemente norteia apenas o físico,mas que atingiu em cheio nossas mentes.
Não muito tempo atrás,esperávamos no ponto de ônibus,sem quase nenhum tipo de entretenimento,sem nem ter ideia de quando a condução ia chegar. Nosso mindfulness era praticado sem percebermos. O foco era olhar,a espera da visão do ônibus,para poder acenar,sem perder a chance de embarque e ter que esperar pelo próximo. Dentro do transporte,poderíamos conversar com pessoas,e essas teriam nossa total atenção,e até mesmo nosso olhar. Ou quem sabe se leria uma revista,um livro... atividades que guardariam nossa concentração durante a viagem.
Ainda somos esse ser que era capaz de realizar uma tarefa e apenas uma,por vez. Esse papo que hoje temos que fazer 2 ou mais coisas ao mesmo tempo,não é verdade e nosso cérebro simplesmente não funciona dessa forma. Somos “monotarefa”. Realizar diferentes tarefas ao mesmo tempo,simplesmente divide a nossa atenção,e não multiplica ela por 2 ou mais.
Mas,chegamos aos dias de hoje,com aquele mundo que temos em nossas mãos,que são os smartphones,os computadores portáteis,os tablets. Aquela espera no ponto de ônibus,é completamente dispersa. Dentro dele,o papo com os conhecidos,é impessoal e sem nenhuma atenção (no caso de ter algum tipo de conversa real),muito menos com retenção de olhar. Nossa pratica diária de mindfulness já foi para o espaço.
Recebemos e acessamos muito mais informação do que nosso cérebro pode dar conta. E o pior: na maioria das vezes,informação que poderia ser facilmente descartada. Lixo puro. As consequências disso podem ser de diversos “tamanhos” e provocar mais ou menos danos nas vidas e na saúde das pessoas.
Indiscutivelmente,toda essa distração já provoca uma maior dificuldade de aprendizado,sobretudo em crianças e adolescentes. Um mundo novo na palma da mão,cheio de pessoas interessantes e lindas,torna nossa realidade um pouco sem graça. Então,já podemos começar a lidar com sentimentos de frustração e ansiedade. É preciso ter controle para sair do mundo da fantasia e voltar ao real,sem grandes danos.
No mundo real também temos que estar presentes e rápidos para realizar as tarefas que não podem ser adiadas,como trabalhar ou estudar,mas no meio do caminho temos que arrumar tempo pra ver a série que “tem que ver porque é muito boa”,olhar a lista dos alimentos que não podemos comer porque engordam e fazem mal à saúde,comprar aquela-coisa-qualquer-que-está-na-moda,seguir e curtir os posts pra não ficar de fora,fazer o treino que é o melhor de todos e serve pra todo mundo... ufa!
E cada aquele tempo que a gente precisa pra respirar,se concentrar,curtir,aprender,respirar? Só vemos no horizonte,mais novidades e formas de otimizarmos o tempo. Mas,pra que? O tempo é perfeito. E nosso. Fazemos com ele o que queremos. E apenas uma questão de tomar consciência disso. O que nós precisamos é exatamente o oposto. Ter o tempo livre,para poder fazer uma coisa de cada vez e fazer de forma plena. Viver de verdade as experiências que temos na vida,sem nos sobrecarregar. Ter autocontrole e nos colocar o limite que precisamos para sermos mais ativos e donos do nosso tempo. Não tentarmos ser tão perfeitos e não cobrarmos tanto de nós mesmos,mas buscarmos dentro do que somos sermos bons o suficiente para sermos felizes e realizados. Lembrar que levantar a “cara” da tela e olhar pra fora,pode ser mais interessante,instigante e revigorante. E além de tudo,real.