2024-09-24 HaiPress
Incêndio no Parque Nacional do Itatiai — Foto: ERNESTO CARRIÇO/Agencia Enquadrar/Agencia O Globo
GERADO EM: 24/09/2024 - 04:30
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Em meio a tantas tensões velhas e anacrônicas,mais as novas e desafiantes,quando os cientistas se preparam e criam as contingências à espera da próxima pandemia,e vivendo o fato biológico de que vírus influenza como H5N1,que hoje circulam no meio animal entre aves e alguns mamíferos,faltando pouco para que rompam a tênue barreira humana que nos separa das zoonoses,o Brasil arde,por inteiro,e o planeta arde,em fogo e guerras.
Com expectativa de quase 3°C de aumento,como informa a ONU nestes dias,o meio ambiente pede socorro e inteligência e o mundo arde em guerras,difíceis de serem explicadas em seu racional. Arde o homem,em seu meio ambiente violado,em última análise,sob a decrepitude do que seja ser humano.
É de nos perguntarmos,eivados de tanta inquietude,ou pior,de cegueira,por anestesia cívica,o que é ainda ser humano,nesse primeiro quarto de século XXI,quando rompemos a chamada “epifania do rosto” segundo o grande filósofo Emanuel Levinas,no que concerne cuidar do outro,emaranhados por paradoxos que opõem tecnologia e acesso,criação e negação,inclusão e exclusão num exercício de tensão cotidiana,que atinge grande parte da gente de nosso planeta.
Atravessamos o século XX,e sabíamos ter testemunhado o limite do impensável,que o é e será sempre,insuperável,como o Holocausto,como modelo de eliminação de um povo. Permanece mais que nunca o desafio a manter a memória e a pedagogia de explicar às gerações futuras,como nos ensina Simone Veil em seu último livro (Albin Michel,2024). Mesmo fazendo apelo à mais profunda observação interior de nós mesmos,conscientes de que não há uma eternidade na natureza humana,vemos como esta se recria,se reinventa seja pelas instituições culturais,sociais ou pela tecnologia,apenas para aplicar o mal. Simples assim ou complexo demais? Estacionamos tragicamente nas questões éticas de até onde podemos ir,nessa destruição da natureza e de nossos semelhantes,(como explicar que alguém possa deliberadamente tocar fogo na floresta?) porquanto apenas a nós cabe estabelecer nossas regras e arbitrar direitos e deveres.
Assim,triste demais saber que a primeira fonte de geração de recursos na economia mundial é o comércio de armas,que hoje supera US$ 2,4 trilhões,portanto a indústria que alimenta e retro alimenta as guerras,por mais insanas que estas sejam,bem como grupos de mercenários e seus múltiplos,que contribuem para que países pobres,cuja populações vivem em condições de dominação por ditadores grotescos,e de subdesenvolvimento injustificável,mesmo que vivendo em terras riquíssimas,se perpetuem nessa condição. Pouco importam dados como os publicados pelo último relatório do Instituto de Pesquisa para a Paz de Estocolmo,de que os Estados Unidos expandem o seu papel de liderança nesse mercado e a França também sobe,enquanto a Rússia recua no ranking dos maiores exportadores de armas. O que tem isso a ver com a vida das pessoas?
E ao nos dar conta de que entre essas maiores fontes de geração de divisas está a indústria farmacêutica e sua infinita capacidade de produzir e se superar,como demonstrado na produção de vacinas para a última pandemia e as atualmente em produção prospectiva para as próximas,pensamos: seria este um cenário virtuoso,sem dúvida,somando o melhor da capacidade científica de criar e a oferta tecnológica para propiciar a produção,não fosse o desigual e obsceno acesso a tanta oferta no mercado,desde fármacos básicos para doenças transmissíveis até as não transmissíveis.
O planeta não arde de paixões,como num sonho de vida harmônica,um allegro bem temperado,mais do que um scherzo,sonho humano,sob uma visão maior do que a aristotélica,do que seja o homo racional. Arde o planeta de uma realpolitik que retroalimenta o ódio e embrutece o homem,esse homo sapiens que é igualmente homo demens,não sob uma visão psiquiátrica,mas pela capacidade de viver delírio e desmesura,e até a paixão amorosa,no estado em que vivemos.