2024-10-25 HaiPress
Vacinação contra a Covid-19 no Rio — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo / 23-02-2024
GERADO EM: 25/10/2024 - 04:30
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A pandemia de Covid-19 expôs como nunca as fragilidades dos sistemas de saúde no mundo. No Brasil,o impacto foi ainda mais profundo ao evidenciar desafios estruturais e logísticos,como a falta de vacinas. Mas essa escassez não é novidade. A limitação no fornecimento,agravada pelo período,reflete um problema de décadas na gestão da saúde pública e na dependência de insumos internacionais.
O Brasil,historicamente,sempre foi visto como um exemplo positivo em termos de vacinação. Desde a criação do Programa Nacional de Imunizações (PNI),em 1973,o país se destacou por campanhas de vacinação em massa,que contribuíram para a erradicação de doenças como a poliomielite e o sarampo,colocando a saúde pública brasileira em um patamar elevado no contexto global. Contudo,a falta de investimento continuado e as dificuldades para manter contratos de fornecimento de insumos e tecnologia enfraqueceram a capacidade de resposta do PNI. O surgimento de novas pandemias,como a de Covid-19,agravou o cenário,expondo a fragilidade de um sistema que depende em grande parte da importação de matérias-primas e da colaboração com farmacêuticas internacionais.
De acordo com um levantamento recente da Confederação Nacional dos Municípios,cerca de 64,7% dos municípios brasileiros relatam escassez de imunizantes,especialmente aqueles voltados a crianças. As vacinas mais afetadas incluem a tríplice viral (contra sarampo,caxumba e rubéola),hepatite A,meningocócica C,DTP (difteria,tétano e coqueluche),Covid-19,entre outras. O Ministério da Saúde reconheceu o problema,atribuindo a escassez a questões de logística,fabricação e alta demanda,e está implementando medidas para mitigar a situação. A previsão é de que algumas vacinas,como a tríplice viral e a hepatite A,tenham seu fornecimento normalizado até o final de outubro,enquanto outras,como a vacina contra meningocócica C,só estarão disponíveis de forma plena em 2025.
A escassez de vacinas é,em grande parte,reflexo de problemas logísticos. A dificuldade em obter insumos para a produção de imunizantes,como o ingrediente farmacêutico ativo (IFA),foi um dos principais gargalos durante a pandemia. O Brasil depende,em grande medida,de países como China e Índia para o fornecimento de IFAs,o que torna o sistema vulnerável a crises internacionais. Também existem desafios políticos. A falta de uma política nacional clara de priorização na compra e distribuição de vacinas resultou em desigualdades regionais. No curto prazo,a falta de imunizantes aumenta a vulnerabilidade da população a surtos de doenças já controladas,o sarampo em alguns estados brasileiros. No longo prazo,a falha em manter uma cobertura vacinal adequada pode comprometer a erradicação de doenças e enfraquecer a confiança pública nos sistemas de saúde. Além disso,a falta de imunização impacta diretamente a economia. Durante a pandemia,vimos como a demora na vacinação retardou a reabertura segura da economia,afetando negativamente o crescimento e a recuperação do mercado de trabalho.
É essencial investir na capacidade de produção de vacinas no Brasil,especialmente em instituições como o Instituto Butantan e a Fiocruz. Isso inclui também o desenvolvimento de novas tecnologias e a fabricação de IFAs no país. O Brasil possui potencial científico,mas carece de investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Fortalecer as universidades e institutos de pesquisa permitirá desenvolver vacinas inovadoras,diminuindo a dependência de tecnologias estrangeiras. Para evitar crises futuras,é fundamental que o governo brasileiro estabeleça parcerias estratégicas com a indústria farmacêutica e com países produtores.
É hora de aprender com os erros e construir um futuro em que a saúde pública seja prioridade. Vacinas salvam vidas,e garantir seu acesso é uma responsabilidade que o Brasil precisa assumir de maneira firme e definitiva.