2024-11-05 HaiPress
Raquel Lyra e o presidente Lula — Foto: Ricardo Stuckert
GERADO EM: 04/11/2024 - 22:52
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Com a iminente migração da governadora de Pernambuco,Raquel Lyra,para o PSD,todos os estados do Nordeste passam a ser comandados por integrantes da base do governo Lula. Ao deixar o PSDB,decisão que deve ser formalizada nas próximas semanas,Lyra deixa de ser a única gestora da região filiada a um partido que faz oposição. A troca partidária foi antecipada pela coluna de Lauro Jardim,do GLOBO.
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Reduto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,a região Nordeste tem quatro dos nove governadores no PT. O partido é seguido pelo PSB (2),PSD (que agora terá dois) e MDB (1). Todas essas siglas têm ministérios. O PSD comanda as pastas de Minas e Energia,Agricultura e Pesca.
Desde o início do ano,Lyra adotou um tom distinto da direção nacional do PSDB e defendia a independência da legenda em relação ao governo Lula,em vez de permanecer na oposição. Em entrevista ao GLOBO em fevereiro deste ano,a governadora disse que a sigla precisava “se reencontrar com a própria história e firmar uma estratégia para desenvolvimento do país e do próprio partido”. Em Pernambuco,Lula teve 66,9% dos votos em 2022. Na ocasião,Raquel Lyra manteve a neutralidade no segundo turno da eleição presidencial.
Mapa dos Partidos mostra nova divisão do poder entre os estados — Foto: Arte O Globo
A ida de Raquel Lyra para o PSD faz com que o partido comandado por Gilberto Kassab governe três estados: Paraná,com Ratinho Jr.,e Sergipe,com Fábio Mitidieri,são os outros dois. A sigla ficará atrás apenas do PT e do União Brasil,que possuem quatro governadores. MDB e PSB também possuem três gestores cada.
Na avaliação de especialistas,a migração demonstra o protagonismo assumido pelo PSD na esfera nacional. Nessas eleições,a sigla foi a que elegeu o maior número de prefeitos,887. O MDB vem na sequência,com 853 municípios. Já o PSDB,que passa por uma crise,caiu de 520 eleitos em 2020 para 273 este ano.
Lyra pretende disputar a reeleição em 2026 e o PSD poderia lhe oferecer uma estrutura maior do que o PSDB. O partido de Kassab tem mais recursos dos fundos partidário e eleitoral,uma vez que possui 44 deputados federais,mais que o triplo da bancada tucana. Com isso,ela teria também mais tempo de televisão.
Tal estratégia seria importante para um possível enfrentamento com o prefeito de Recife,João Campos (PSB). Aliados da governadora avaliam que Campos deve conseguir reunir toda a esquerda em uma coligação. A federação PT-PV-PCdoB representa a segunda maior bancada da Câmara Federal e ter Lyra em um partido da base pode colocar,ao menos,algum obstáculo nesta aliança. Campos foi reeleito no primeiro turno com 78,11% dos votos.
Veja os governadores e seus partidos — Foto: Arte O Globo
— Ser candidata em um partido com uma base sólida e acesso ao fundo partidário,vai ajudá-la contra João Campos. Mas,antes de 2026,colocará Raquel Lyra no ciclo governista. É possível que o governo federal possa vir a fazer aportes para o estado como um todo. É a saída de um partido definhando para um em crescimento — avalia o cientista político Paulo Baía,da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Nos bastidores,a governadora já vinha fazendo acenos ao PSD há algum tempo. Seu candidato na capital,o ex-secretário de Turismo Daniel Coelho,foi filiado por ela na sigla e,hoje,comanda o diretório municipal em Recife. Procurado,Coelho disse desconhecer as tratativas,mas afirmou que “todo partido” gostaria de ter Lyra entre seus quadros.
Apesar de ele ter sido derrotado nas eleições municipais com a reeleição de João Campos no primeiro turno,o PSD deu uma importante vitória para a governadora no pleito: a eleição de Mirella Almeida em Olinda,na região metropolitana de Recife. Lá,Campos também se envolveu na campanha,em prol do petista Vinicius Castello,mas saiu derrotado,a poucos quilômetros de seu reduto eleitoral.
Questionado sobre a iminente desfiliação,o presidente nacional do PSDB,Marconi Perillo,disse ter sido pego de surpresa:
— Não tenho qualquer informação sobre esta especulação. Na última conversa que tivemos,após o segundo turno,ela demonstrou muito entusiasmo com o resultado do PSDB nas eleições municipais,quando o partido,sob o comando dela,se tornou a maior força política no estado.
O PSDB cresceu de cinco para 32 prefeituras no estado. Já o PSD tem 21 municípios. A expectativa,contudo,é de que a governadora mantenha a base tucana consigo.
Articuladores também garantem que não há intenção de levar o quadro recém-eleito com ela. A atitude de um pé em cada barco visa justamente a desestimular o PSDB a fazer oposição a seu governo. O presidente da Assembleia Legislativa,o tucano Álvaro Porto,tem um passado de rusgas com a governadora e influencia o partido. O receio é de que ele ganhe espaço internamente.
No início do ano,a briga entre os dois se tornou pública quando um comentário do parlamentar vazou no microfone durante a sessão de reabertura do Legislativo após o recesso. Na ocasião,ele criticava o discurso de Lyra,afirmando que ela não teria falado “m** nenhuma”. Com fidelidade de apenas 12 dos 49 deputados,a governadora acumula derrotas na Assembleia.
A relação entre Lyra e Porto azedou durante a tramitação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no ano passado. O principal impasse ocorreu com a insistência da governadora em manter o excedente da arrecadação limitado ao Executivo e a judicialização,após veto da Casa. Na ocasião,o presidente votou pela derrubada e chegou a publicar nas redes sociais uma crítica pela ausência de diálogo com a governadora.
Desde então,Porto autorizou a migração de seu grupo político para o Republicanos,partido independente na Assembleia e base do prefeito João Campos,adversário de Raquel Lyra.
Apesar de ser assunto sensível,a desfiliação de Lyra já era esperada após as eleições deste ano. O anúncio formal a aliados é esperado para hoje,quando ela se reúne com sua base. Na Assembleia,além de Porto,outros dois deputados são do PSDB,incluindo seu líder do governo,Izaias Régis. Procurada,Lyra não se manifestou.