2024-11-13 HaiPress
Em entrevista ao jornal de Hong Kong South China Morning Post,o antigo Comissário Europeu do Comércio (1999-2004) afirmou que "o que a China tem de fazer é falar com outras potências comerciais,como a União Europeia,a Índia,o Japão e a Coreia,e procurar uma posição comum".
"Estas potências comerciais do mundo que não são os Estados Unidos podem manter o comércio aberto entre si e decidir o que fazer com os EUA",afirmou o francês,diretor da OMC entre 2005 e 2013.
Durante a campanha que conduziu à vitória eleitoral,Trump prometeu taxas alfandegárias de 60% a 100% sobre bens importados da China,bem como uma taxa geral de 10-20% sobre todos os bens provenientes do estrangeiro.
No primeiro mandato na Casa Branca (2017-2021),o republicano iniciou uma guerra comercial contra a China.
Lamy,atualmente professor honorário da China-Europe International Business School (CEIBS),disse acreditar que Trump está errado no diagnóstico do impacto do comércio externo na economia do país: "O que está a acontecer é que os EUA consomem demasiado e poupam muito pouco".
"No sistema macroeconómico chinês,com muito pouco consumo e muita poupança,a capacidade de produção excedentária tem de ir para as exportações",descreveu.
"Se temos uma grande capacidade de produção e um consumo interno insuficiente,somos obrigados a internacionalizar-nos para vender no mercado mundial a um preço mais baixo do que no mercado interno. Trata-se de um problema macroeconómico,mas com uma dimensão comercial,que terá inevitavelmente de ser resolvido",disse.
Um dos setores emergentes em que a concorrência feroz a nível interno fez com que os fabricantes chineses procurassem expandir-se para o estrangeiro foi o dos veículos elétricos,agravando as fricções com a UE.
Embora Pequim tenha respondido às taxas impostas por Bruxelas com investigações contra a carne de porco e os produtos lácteos importados da UE,Lamy não é favorável à descrição da situação como uma guerra comercial: "Não há nada disso entre os dois. Quem diz isso está a confundir a questão".
Na opinião do especialista,existe apenas uma "diferença de perceção" sobre a extensão dos subsídios chineses ao setor dos elétricos: "A OMC resolverá este desacordo (...) Não merece ser chamado de guerra comercial".
Apesar de a autoridade da OMC ter sido posta em causa nos últimos anos,Lamy considerou que a organização continua a ser relevante,embora reconheça que necessita de reformas mais eficazes. Lamy pediu a Pequim e a Bruxelas que desempenhem um papel de liderança.
"As regras da OMC,redigidas há 30 anos,já não estão em conformidade com os tempos atuais (...). Se a UE e a China chegarem a acordo sobre a forma de o atualizar e de abordar melhor a OMC,muitos outros países juntar-se-ão e participarão",afirmou.