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Exoneração expõe insatisfação com esforços do governo Lula para frear crise sanitária em reservas indígenas

2024-12-20 HaiPress

Povo Yanomami,Aldeia Demini,Watoriki — Foto: Hiromi Nagakura/Divulgação

RESUMO

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GERADO EM: 19/12/2024 - 22:05

Crise na Saúde Indígena: Exoneração e Desafios

Em meio a esforços para conter crise sanitária em reservas indígenas,a exoneração de Marcos Pellegrini revela insatisfação com falta de assistência na Terra Indígena Yanomami. Líderes reclamam de casos de malária e ausência de diálogo e transparência. A situação expõe desafios na gestão de saúde indígena e ressalta a necessidade de ações efetivas para garantir assistência e combater problemas de saúde nas comunidades.

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O pedido de exoneração feito pelo médico Marcos Pellegrini do cargo de coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Ianomâmi na segunda-feira expôs a insatisfação com os esforços do governo Lula para conter a crise sanitária na maior reserva de povos originários do Brasil,que começou no fim do governo Jair Bolsonaro. Apesar de ter experiência em saúde indígena,inclusive entre os ianomâmis,Pellegrini teve a saída pedida por líderes da etnia,que reclamaram do alto número de casos de malária e da falta de assistência,diálogo e transparência sobre o problema.

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Presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami Ye’kuana,Junior Yanomami afirmou que a malária continua matando muitos indígenas da reserva e que há diversas comunidades sem assistência,apesar das contratações de mais médicos — segundo o Ministério da Saúde,o número passou de 690 para 1,5 mil em 2023. Junior detalhou que as visitas médicas só são feitas a cada três meses em alguns locais. Na comunidade Auaris,a última visita teria sido há seis meses.

— Não é falta de recursos humanos. O que falta,talvez,é planejamento e organização — avaliou Junior,que se queixou da falta de diálogo com o Ministério da Saúde. — Tento acompanhar,mas não tenho respostas. Somos excluídos.

Pellegrini já atuou na Terra Indígena Yanomami nas décadas de 1980 e 1990 e foi escolhido por manter um bom relacionamento com as etnias do território. Médico com doutorado em antropologia social,publicou neste ano o livro “Watupari: um testemunho da resistência do povo Yanomami”,em que o próprio Junior o elogia. O prefácio da obra é da ministra da Saúde,Nísia Trindade.

O líder indígena disse que mantém o respeito à história profissional de Pellegrini,mas houve uma frustração com a falta de resultados no distrito sanitário.

— Como ele é antropólogo,médico sanitarista e professor,a gente pensou que ia ter diálogo e respeito melhor com as comunidades. A gente tentou conversar sobre informações de dados da saúde ianomâmi,estatísticas de nascimentos e mortes,malária,mas não tinha essa transparência.

‘Falta de educação’

O estopim da insatisfação,contou Junior,foi uma discussão no Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana em setembro. Segundo o indígena,diante das queixas sobre casos de malária,Pellegrini teria respondido que já contraiu a doença “20 vezes,mas nunca morreu”.

— O Marcos respondeu com falta de educação,com ignorância. Isso é falta de respeito com as vidas. Ele tomou medicamentos,mas muitos ianomâmis não tomam — afirmou Júnior.

Em 30 de outubro,o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami Ye’kuana pediu em carta à ministra o afastamento de Pellegrini.

No mesmo fórum,o ministério informou que 5,2 mil indígenas voltaram a ter assistência e que a Secretaria de Saúde Indígena investiu R$ 221 milhões no território em 2023. Até agosto,foram R$ 216 milhões. O secretário de Saúde Indígena,Weibe Tapeba,disse que houve uma redução de 33% na mortalidade.

O ministério informou na quinta-feira que a comunidade de Auaris,citada por Junior,“conta com atendimento médico contínuo”. Segundo a pasta,com a ampliação da força de trabalho e das ações de vigilância epidemiológica,houve um maior número de exames,o que levou à maior detecção de casos.

Essa abordagem “possibilita diagnóstico e tratamento mais rápidos,o que tem contribuído para a redução significativa de óbitos por malária”,acrescentou o ministério. A pasta também disse em nota que mantém uma “política ativa” de divulgação de informações,e um informe sobre as ações do distrito sanitário acaba de ser apresentado,no dia 11.

Um drama que ainda está longe do fim

Decreto de emergência

Em janeiro de 2023,o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou situação de emergência pública na terra ianomâmi,depois de fotos com crianças e idosos da etnia desnutridos evidenciarem mortes por doenças disseminadas pela falta de assistência e a invasão de garimpeiros. Ao menos 570 menores de 5 anos teriam morrido em quatro anos por doenças que poderiam ser evitadas.

Força-tarefa

Além de reestruturar o distrito de saúde local,o governo montou uma força-tarefa para retirar os garimpeiros,com Ibama,Exército e Polícia Federal. Foram apreendidos R$ 93 milhões em bens em 2023,além da destruição ou apreensão de 362 acampamentos,34 aeronaves,43 barcos,14 armas e 838 gramas de ouro.

Atendimentos

A terra indígena recebeu 4,3 milhões de medicamentos e insumos,13 mil atendimentos e 52,6 mil doses de vacina. Mas,das 151 mil cestas básicas previstas,só 58 mil foram entregues.

O retorno

O governo não garantiu o bloqueio dos rios e do espaço aéreo. Com isso,muitos garimpeiros voltaram no segundo semestre de 2023,que terminou com 363 mortes,um aumento de 6%.

Nova tentativa

Foi criada uma nova operação de combate ao garimpo e instalada uma “Casa de Governo” em Boa Vista. O número de alerta de garimpos teve queda de 73% de janeiro a abril de 2024,segundo o governo.

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