2025-02-10
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A candidata de oposição,Luisa González,e o presidente equatoriano,Daniel Noboa — Foto: AFP
GERADO EM: 09/02/2025 - 21:03
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Com 25% das urnas apuradas,os números indicam um possível segundo turno no Equador entre o atual presidente Daniel Noboa e a opositora Luisa González,apadrinhada do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017) — e que já havia sido rival de Noboa na disputa de 2023. Cerca de 83% dos mais de 13 milhões de eleitores foram às urnas neste domingo,segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE),que disse que a votação ocorreu “com total normalidade”.
Contexto: Equador escolhe presidente em meio à violência do narcotráfico,e candidatos votam com promessas de novos rumos para o paísQuem é Daniel Noboa? Filho de bilionário e marido de influencer é eleito presidente do Equador
Três horas após o fechamento das urnas,e com cerca de 25% do total de votos computados pelo CNE,Noboa aparecia com 46% dos votos e González com 42,3%. Em terceiro lugar,o líder indígena Leonidas Iza tinha pouco mais de 5%. Para ser eleito em primeiro turno,um dos candidatos precisa obter maioria simples ou 40% dos votos e uma diferença de pelo menos dez pontos sobre o adversário. Nesse cenário,a disputa deve ser decidida no segundo turno,em 13 de abril.
A primeira pesquisa de boca de urna publicada após o fim da votação apontava para a vitória de Noboa no primeiro turno por 50,2% dos votos. González,por sua vez,aparecia com 42,2%. Outras,no entanto,não davam mais de 50% dos votos ao presidente. Imediatamente após a divulgação,Correa rejeitou os números.
"Eles sabem que é uma mentira. Essa é a pesquisa de boca de urna do governo",escreveu o ex-presidente no X,em uma série de posts.
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A campanha deste ano adotou fortes medidas de segurança diante do temor de que o cenário do último pleito,em 2023,se repetisse no país — que foi de um dos mais seguros da América Latina para uma taxa de 38 homicídios por 100 mil habitantes. Na época,o pleito ficou marcado pelo assassinato do candidato Fernando Villavicencio,morto a tiros em um ato de campanha na capital,Quito. A tragédia catapultou a candidatura de Noboa,37 anos,que correria por fora,vencendo Luisa González,47 anos,antes favorita.
Apesar da aparente tranquilidade,os serviços de emergência alertaram sobre "graves denúncias de um possível atentado à democracia",sem dar detalhes. As fronteiras estão fechadas até segunda-feira,enquanto cerca de 100 mil integrantes da força pública vigiam os locais de votação. Durante o dia,um policial morreu e outro ficou ferido em um "ataque armado" na cidade portuária de Guayaquil,segundo a polícia.
— Recebi ameaças [...] Há relatórios de inteligência que dizem que há riscos,que querem atentar contra a minha vida — disse a candidata González à AFP no início do dia.
Mais de mil observadores internacionais acompanharam o pleito. Segundo o o eurodeputado espanhol Gabriel Mato,chefe da missão da União Europeia (UE),que enviou mais de 100 observadores,as primeiras horas de votação transcorreram “calmamente”,apesar de “certos atrasos” na instalação das seções eleitorais e na abertura dos centros de votação.
Além da eleição presidencial,cuja principal expectativa girava em torno da realização ou não de um segundo,os 151 membros da Assembleia Nacional e cinco para o Parlamento Andino também foram eleitos. A relação com o Legislativo será decisiva para o próximo presidente equatoriano,que tem o desafio de recuperar um país mergulhado em crise econômica e na guerra entre cartéis que lutam pelo controle do tráfico de cocaína.
Noboa,que em 2023 se tornou o presidente mais jovem da História do país,é herdeiro de um império de bananas. O empresário é filho de Álvaro Noboa,que tentou cinco vezes ser presidente do Equador. Membro de uma das famílias mais conhecidas e ricas do país,ele foi deputado na última legislatura.
Noboa já pretendia concorrer às presidenciais deste ano,mas viu seus planos se anteciparem quando o ex-presidente Guillermo Lasso convocou novas eleições depois de acionar um dispositivo conhecido como "morte cruzada",que o permitiu dissolver o Congresso para impedir que o Legislativo o destituísse em um processo de impeachment por corrupção. Eleito,Noboa foi imbuído de cumprir apenas os 16 meses que faltavam para o fim do mandato de Lasso.
Muito ativo nas redes sociais,Noboa se tornou popular como um governante linha-dura contra o tráfico de drogas.
— O Equador já mudou e quer continuar mudando,quer consolidar sua vitória — disse o presidente.
González,aspira ser a primeira mulher presidente eleita na história do país. Ao contrário de Noboa,ela possui uma agenda que promete mais segurança "com justiça social" e respeito aos direitos humanos.
— Eles são o medo,nós somos a esperança — disse a advogada ao depositar seu voto.
Noboa termina um mandato breve mas vertiginoso. Cortes de energia causados por uma seca histórica mergulharam o país na escuridão. A violência alimentada pelas drogas levou ao controle de prisões por gangues criminosas e ao ataque a um canal de televisão por homens armados enquanto seus jornalistas transmitiam ao vivo. Houve,ainda,disputas diplomáticas com o México e alegações de abusos por parte das forças de segurança em sua ofensiva contra o crime.
Os equatorianos ainda sentem os efeitos de um Estado endividado,com uma taxa de pobreza de 28% e concentrado no financiamento da dispendiosa guerra contra o tráfico de drogas. Depois de mais de uma década de gastos sem a receita do boom do petróleo que antes enchia os cofres do Estado,a dívida pública agora está em torno de 57% do PIB,de acordo com o FMI.
Dolarizado,com portos estratégicos no Pacífico e espremido entre os dois maiores produtores de cocaína do mundo — Colômbia e Peru — o Equador se tornou um paraíso das drogas.
— O Equador é o lar das máfias albanesa e balcânica,da italiana 'Ndrangheta e das máfias turcas — diz Douglas Farah,consultor de segurança e analista sobre América Latina. — E agora você tem gangues locais como Los Lobos e Los Choneros,que lutam por território para que possam transportar o produto através do Equador para seus novos compradores na Europa e na Ásia.
Essa transformação deixou níveis recordes de assassinatos,extorsões e sequestros,que excederam as capacidades das forças públicas. Os equatorianos "nunca experimentaram esse tipo de violência",disse Farah.
A resposta de Noboa foi mobilizar as Forças Armadas,prender líderes de gangues e interceptar carregamentos de cocaína sempre que possível. O presidente deu ao público a sensação de que algo está sendo feito,embora poucos especialistas acreditem que esta seja uma estratégia bem-sucedida a longo prazo.
Alternativas como fortalecer a polícia e os serviços sociais,reformar as prisões e criar empregos custam tempo e dinheiro. O Equador tem pouco de ambos.