2025-02-14
HaiPress
À esquerda,o vendedor da categoria Mestre e Doutor,Wanderson Rodrigues,com o Presidente do CNPQ,Ricardo Galvão — Foto: Brenno Carvalho
GERADO EM: 13/02/2025 - 22:05
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A paixão por instrumentação científica,que surgiu na adolescência e o levou a improvisar uma oficina em casa,levou o mineiro Wenderson Rodrigues Fialho da Silva,de 30 anos,a obter o primeiro lugar na categoria Mestre e Doutor da 30ª edição do Prêmio Jovem Cientista. Graças à sua pesquisa que produz dispositivos e sensores com aplicação na saúde pública,na segurança alimentar e no monitoramento ambiental.
Foi durante a pandemia que Wenderson desenvolveu seu projeto “Integração IoT em tecnologias sustentáveis e de baixo custo: sensores e equipamentos para saúde pública,segurança alimentar e monitoramento climático”. A pesquisa alia tecnologias inovadoras,sustentabilidade e produção barata,e foi elaborada junto a pesquisadores dos departamentos de Física,Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
— O prêmio reconhece o esforço que eu tive ao longo desse tempo com um trabalho que já vem desde a graduação. Agora eu sou aluno do início do doutorado,e isso traz mais energia para continuar,mais motivação para atuar na produção de equipamentos e dispositivos e sensores — afirma.
Wenderson se tornou pesquisador por incentivo dos pais,que não tiveram oportunidade de avançar nos estudos. O empenho começou a dar frutos ainda no ensino médio,quando ele ganhava prêmios em feiras de ciências. Uma de suas invenções rendeu a primeira premiação da carreira acadêmica,antes mesmo de o estudante ingressar no curso de Física na UFV. Logo após a graduação,o mineiro tornou-se mestre e começou o doutorado na mesma instituição.
Parte do projeto vencedor do Jovem Cientista é dirigida para a criação de um biossensor voltado para o diagnóstico sorológico da Covid-19. Com custo de R$ 250,o equipamento portátil detecta a infecção por ressonância,em sensores contidos em um aparelho que funciona como uma espécie de fita diagnóstica.
O fator inovador do diagnóstico levou à conquista da publicação de um artigo sobre o tema no jornal científico Biosensors and Bioelectronics. A pesquisa também foi premiada pela Sociedade Brasileira de Física como o melhor trabalho apresentado na área de Magnetismo,no 2024 Autumn Meeting of the Brazilian Physical Society,realizado em Florianópolis.
Outro produto criado por Wenderson foi a câmara de esterilização ultravioleta,capaz de limpar objetos e superfícies contaminados por bactérias. A tecnologia utiliza lâmpadas de vapor de mercúrio descartadas no meio ambiente,provenientes da iluminação pública. Esse tipo de iluminação de alto consumo,após ser substituído por equipamentos de LED,passou a gerar um excedente de lixo de alta toxidade,devido à presença do mercúrio.
O terceiro equipamento gerado pela pesquisa foi uma estação meteorológica baseada em internet das coisas (IoT),em que um conjunto de dispositivos está conectado para otimizar o tráfego de dados. A estação foi construída com materiais alternativos e sensores de baixo custo. Os equipamentos são controlados por softwares que estão ou podem ser ligados à internet. O objetivo,no caso,é promover a inclusão digital,a infraestrutura acessível e soluções sustentáveis em diferentes áreas,explica o vencedor.
— A tecnologia é uma oportunidade de democratizar o acesso a informações climáticas em tempo real. O equipamento também facilita a compreensão de padrões climáticos locais,o monitoramento de eventos climáticos extremos,o avanço da agricultura inteligente,a caracterização de ecossistemas e a prevenção de desastres naturais — enumera Wenderson.
A pesquisadora Annelys Machado com o presidente do CNPQ,Ricardo Galvão — Foto: Brenno Carvalho
Uma iniciativa que nasceu dentro de casa que se tornou um projeto acadêmico de impacto social fez a engenheira eletricista Annelys Schetinger,de 34 anos,vencer o segundo lugar da categoria Mestre e Doutor da 30ª edição do Prêmio Jovem Cientista. Doutoranda da UFRJ,Annelys desenvolveu com o marido,Daniel Henrique Dias,também pesquisador,um projeto para ensinar conceitos básicos de eletrônica e programação a jovens em vulnerabilidade.
O que antes se restringia a aguçar a curiosidade científica das duas filhas em casa se tornou um grande projeto do casal,que atendeu por um ano crianças e adolescentes de 5 a 19 anos que apresentavam defasagem educacional. O projeto “Construindo o futuro: competências digitais através do ensino de robótica com Arduino para crianças”,foi feito em parceria com a Associação Assistencial,Educacional e Cultural Casa do João,no bairro de Santa Rosa,em Niterói.
As atividades foram estruturadas para estimular o pensamento crítico,a criatividade e habilidades em competências digitais. A consequência é preparar os alunos para um mundo cada vez mais tecnológico.
Os estudantes foram introduzidos a conceitos básicos de eletrônica e programação utilizando o Arduino — kit de aprendizagem projetado para crianças e iniciantes na programação e eletrônica que possibilita um aprendizado intuitivo e interativo. O objetivo do ambiente criativo é estimular o interesse pelas disciplinas de Ciências,Engenharia e Matemática.
— Essa pesquisa pode ser aplicada em qualquer lugar do Brasil,ensinando as crianças e jovens a mexerem com fios,LEDs,resistores. Também desperta o interesse das crianças para a eletrônica. O resultado é que ela levanta a autoestima,fazendo com que se sintam capazes de realizar sonhos e ter acesso a oportunidades — detalha Annelys,doutoranda em Planejamento Energético pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia,da UFRJ.
Nas aulas,os participantes aprenderam sobre o funcionamento de engrenagens e dispositivos do dia a dia. Eles simularam semáforos utilizando LEDs e resistores,geraram sons por meio de códigos inspirados em sirenes e desenvolveram sistemas de alerta para pessoas com deficiência visual usando sensores ultrassônicos. Ao final do curso,construíram um sistema de irrigação automatizado com sensores e LEDs para o jardim da Casa do João.
Annelys acompanhou de perto a evolução dos alunos,que adquiriram competências digitais essenciais,como entender a lógica de programação e se habilitar a resolver problemas. Agora,a pesquisadora busca financiamento para ampliar o projeto,formar uma equipe e oferecer as aulas a um número ainda maior de jovens.
À esquerda,Gabriel Alves com o presidente do CNPQ,Ricardo Galvão — Foto: Brenno Carvalho
O desenvolvimento científico já permite que interações computacionais sejam feitas apenas com o comando do cérebro,sem movimentos comandados por mouse ou teclados. A dificuldade,no entanto,está no maior acesso a esse tipo de tecnologia. Para driblar as barreiras do alto custo e da complexidade desses sistemas,o pesquisador Gabriel Vasiljevic Mendes,de 32 anos,desenvolveu jogos digitais baseados em eletroencefalografia (EEG). Criações capazes de ajudar inclusive pessoas com deficiências.
O estudo,que conquistou o terceiro lugar na categoria Mestre e Doutor,investigou como ferramentas e métodos baseados em cérebro-computador (ICC) podem ser utilizados de forma mais inclusiva. A conclusão foi que jogos digitais podem ser aliados na recuperação de pessoas com deficiências e ainda contribuir para tornar o uso desses jogos mais atrativo nos ambientes acadêmico e profissional.
O pesquisador propôs a criação de dois jogos de código aberto controlados por eletroencefalografia,forma de registrar a atividade elétrica do cérebro que costuma usar eletrodos colocados no couro cabeludo.
O objetivo do pesquisador é permitir que outros pesquisadores possam replicar e expandir experimentos controlados usando jogos de ICC existentes ou novos modelos baseados em EEG.
— Com a tecnologia,pessoas que não têm qualquer tipo de movimento corporal,com um membro amputado,com mal de Parkinson ou esclerose lateral amiotrófica (ELA),por exemplo,podem usar esse tipo de tecnologia para controlar um computador,um braço robótico,um celular,comunicar-se e,principalmente,em reabilitações motoras — explica Vasiljevic.
Os resultados da pesquisa já foram publicados em diversos periódicos científicos de alto impacto. Mais de 140 instituições de pesquisas de 45 países também aproveitaram o trabalho de Vasiljevic para desenvolver tecnologias em empresas e na rede pública.
Professor e pesquisador do Instituto Santos Dumont (ISD),vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Neuroengenharia do Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra (IIN-ELS),Vasiljevic afirma que ganhar o Prêmio Jovem Cientista foi importante para dar mais visibilidade ao seu campo de estudos e fomentar a pesquisa na área. Agora,seu foco é ampliar o acesso às tecnologias com que trabalha,beneficiando especialmente pessoas com deficiência física e promovendo um uso mais democratizado das ICC nos jogos digitais.
— Espero desenvolver esses sistemas de forma mais facilitada para que mais pessoas tenham acesso a eles na área da tecnologia e criar soluções de computação e de inteligência artificial para as áreas de educação e saúde — conta Vasiljevic.