2025-05-07
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Oposição dá entrevista na Câmara sobre CPI para investigar descontos no INSS — Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo
GERADO EM: 07/05/2025 - 01:00
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À medida que as semanas passam e novos detalhes são revelados no escândalo dos descontos ilegais de aposentados e pensionistas do INSS,vê-se um governo completamente perdido em todas as frentes: na contenção política dos estragos e,sobretudo,no caminho para indenizar quem foi roubado na mão grande naquilo que é seu direito mais básico e vital.
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Desde que o caso veio à tona,do presidente aos técnicos do órgão,todo mundo tenta apenas ganhar tempo,sem entender que,para quem vai olhar o contracheque e descobre que há meses ou anos vem havendo desconto de seus vencimentos sem ter autorizado,o que bate é desespero.
Ninguém faz a mais pálida ideia de quando e como o dinheiro será devolvido,a quantos e a quanto monta,de verdade,o prejuízo. Hipóteses lançadas a granel,de um jeito meio displicente,por autoridades que deveriam entender ser de fato urgente uma solução para algo tão grave,só evidenciam que ainda se sabe muito pouco dos mecanismos,da dimensão e dos responsáveis pelo esquema que,desde 2019,lesou pelo menos 6 milhões de beneficiários da Previdência. É tanto chute que o valor do prejuízo já foi estimado em R$ 6,mas agora foi calculado em R$ 5,2 bilhões,um “desconto” que ninguém explica com a transparência exigida de onde veio.
Cada um que fala a respeito do assunto produz um rosário de desculpas esfarrapadas e promessas inexequíveis. O novo presidente do INSS,Gilberto Waller Junior,deu entrevistas em que foi jogando balões de ensaio para cima para ver se algum parava no ar: o dinheiro poderia vir de bens apreendidos pela Polícia Federal (equivaleria a tentar conter uma enchente com um copinho de café) ou das próprias associações que operaram o esquema (caminho final,mas que exige um demorado processo judicial).
Quando instado a falar da saída mais provável e rápida — o Tesouro ser chamado a realizar o ressarcimento,a Fazenda mandar um projeto ao Congresso remanejando recursos do Orçamento para esse fim e,depois,o governo dar um jeito de buscar reaver o prejuízo junto a quem lesou os segurados —,foi propositalmente vago.
A reunião posterior,em que nada menos que sete ministérios foram chamados para tentar descascar o abacaxi e acabou com a fruta ainda com casca e coroa,é a prova cabal de que não se sabe o que fazer. Será um escárnio e um prato cheio para a oposição deixar esse disco rodando sem tocar nada até a volta de Lula de mais uma viagem internacional.
Quem percebe que seu parco e suado dinheiro vinha sendo surrupiado na surdina,com no mínimo a incúria do governo para detectar a fraude,tem pressa. Pressa e revolta,que se espraia num desgaste para o presidente que a bateção de cabeça geral deixa claro ninguém ter compreendido ainda em sua extensão.
Tanto é que a oposição vai esticando a agonia do governo,cozinhando o galo,coletando assinaturas para uma CPI Mista,enquanto vai colecionando fatos novos para abastecer o arsenal que será deflagrado contra Lula. Nesse caso,pouco importa que o roubo de fato tenha começado no governo Jair Bolsonaro. C
rise envolvendo aposentados,sindicatos e outras entidades classistas é o tipo de escândalo que fere de morte a esquerda,partidos como PT e PDT e a base social e política de Lula e de muitos de seus ministros. Para Bolsonaro,não chega a fazer cócegas,ainda mais porque ele está mais preocupado com o julgamento dos atos golpistas,que pode colocá-lo na cadeia — e está adorando que esse escândalo o tenha tirado um pouco do foco.
É generalizado o revés para Lula,e ele ter reunido sete ministérios e ainda assim sair sem ao menos um esboço de satisfação a dar a quem está em desespero é um atestado de incompetência e debilidade política,tudo que tem feito sua popularidade escorrer pelos dedos,sem sinal de recuperação no horizonte.