2024-07-14 HaiPress
A votação da reforma tributária na Câmara dos Deputados — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo/10-07-2024
GERADO EM: 14/07/2024 - 04:30
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Com a reforma tributária na reta final,os carros elétricos entraram,ao lado do tabaco e das bebidas alcoólicas,na lista dos produtos que pagarão o “imposto do pecado”. Em tese,esse imposto recairá sobre mercadorias que fazem mal à saúde ou agridem o meio ambiente. Ganha um fim de semana num incêndio do Pantanal quem souber o que um carro elétrico tem a ver com isso.
As montadoras nacionais fazem o que podem contra os carros elétricos,valendo-se do trânsito de que dispõem pelo corredores de Brasília,mas desta vez exageraram.
Uma reforma tributária que pretende ser racional acabou acordando o velho monstro do atraso.
A sabedoria convencional ensina que tendo sido um dos últimos países a abolir a escravidão (em 1888),Pindorama tem um pé no atraso. A coisa é pior. Até 1850 o andar de cima nacional estava amarrado ao contrabando de africanos escravizados,uma atividade supostamente ilegal desde 1831.
Admita-se que isso é coisa de um passado remoto,mas o atraso está sempre por aí.
Em 1978,a Associação dos Supermercados excluiu de seu quadro social a rede Carrefour porque ela aceitava pagamentos com cartões de crédito. Nessa época,burocratas e espertalhões criaram um regime pelo qual era mais fácil entrar no Brasil com um pacote de cocaína do que com um computador.
Encrenca-se com os carros elétricos em nome de uma proteção ao parque industrial das montadoras. Trata-se de uma jovem indústria,septuagenária e anacrônica. Enquanto fábricas reinventam-se pelo mundo afora,no Brasil fala-se em importar linhas de montagem de veículos a gasolina desativadas pelo progresso. Seria o ProSucata.
Em 2003,os maganos das montadoras viviam muito bem quando um jovem chamado Elon Musk se meteu no mercado de carros elétricos e criou a Testla. A China foi na bola e hoje suas montadoras têm a maior fatia do mercado mundial.
Quando Juscelino Kubitschek dirigiu o primeiro carro saído de uma montadora de São Paulo,os chineses andavam de bicicleta. Em matéria de fazer besteiras,a China batia o Brasil de longe. Pindorama tinha JK,quando a China teve o Grande Salto de Mao Zedong (Mao Tsé-Tung),com dezenas de milhões de mortos de fome. Os dois países diferem em muitas coisas,mas a China consegue abandonar as ideias erradas. Enquanto o Brasil recicla-as.
Em 2025,o ministro Edson Fachin assumirá a presidência do Supremo Tribunal Federal para um mandato de dois anos.
Há duas semanas enquanto Lisboa vivia as luzes do “Gilmarpalooza”,Fachin disse,numa palestra em Brasília,que “comedimento e compostura são deveres éticos,cujo descumprimento solapa a legitimidade do exercício da função judicante.”
Fachin não enfeita farofas e sua fala indica que,com ele na presidência,o Supremo voltará ao padrão Rosa Weber de discrição.
O braço cosmopolita do bolsonarismo articula um evento espetacular,caso Donald Trump venha a ser eleito em novembro. Antes mesmo de sua posse ele fará gestos ostensivos na direção de Bolsonaro e do argentino Javier Milei.
No mundo dos desejos,admite-se até que ele passe pelo Brasil antes de janeiro.
De qualquer forma,vale a pena evitar falsas expectativas. Por maiores que sejam as afinidades de Trump com Milei e Bolsonaro,a posse de um presidente dos Estados Unidos continuará a ser um evento doméstico,sem convidados estrangeiros.
Os amigos do novo presidente poderão ir a eventos privados,mas continuarão fora da agenda oficial.
Em busca de uma agenda positiva,como se a segurança pública precisasse de novidades,o ministro da Justiça,Ricardo Lewandowski,quer reciclar a Polícia Rodoviária Federal,transformando-a numa Polícia Ostensiva Federal.
A falta de polícias está longe de ser um dos males nacionais,mas a criação dessa POF arrisca virar um monumento à redundância. Na constelação de polícias,está entendido que a Federal tornou-se um exemplo a ser seguido. Ela funciona como uma carreira de Estado,livre de maiores influências políticas. Podendo-se expandi-la e aprimorá-la,pensa-se em fabricar um novo corpo policial. Fala-se numa eventual criação de três mil cargos. Uma festa.
Nos primeiros meses do Lula 3.0,alguns çábios de Brasília tiraram da gaveta a ideia da criação de uma Guarda Nacional. Ela foi ao arquivo diante do desagrado surgido nas corporações militares. Pelo visto,a bocarra reapareceu.
Quem conhece as investigações do ministro Alexandre de Moraes,garante:
“Ele está fechando o cerco”.
Os diálogos de dois agentes da “Abin paralela” mostram quão perto o Brasil esteve de ser controlado por uma quadrilha de malfeitores. Ambos falavam em matar Alexandre de Moraes.
Enquanto durou,o balcão da Secretaria de Controle Externo e Solução Consensual e Prevenção de Conflitos fez sua festa.
Abatida em voo pelo advogado-geral da União,Jorge Messias,a Secex Consenso é defendida por alguns personagens do TCU. Eles se aborreceram com o que lhes pareceu uma desconfiança de Messias em relação ao trabalho da secretaria.
Se Messias desconfiava de alguma coisa não se sabe,mas muita gente desconfiava de muita coisa.
Há um ano,Lula chorou quando o União Brasil exigiu a substituição da ministra do Turismo,Daniela Carneiro,ou Daniela do Waguinho,o ilustre prefeito de Belford Roxo,na Baixada Fluminense.
A doutora nada entendia de turismo e virou ministra para compensar o apoio dado pelo prefeito Waguinho à candidatura de Lula.
Tudo bem. Uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público varejou o submundo das despesas de Belford Roxo e encarcerou o secretário de Educação do município. Foram cumpridos 21 mandados de busca e apreensão. Na casa de um magano encontraram 300 mil euros e na de outro,R$ 360 mil em espécie.
Segundo a Federal,o ervanário relaciona-se com o desvio de recursos de cerca de R$ 6 milhões da merenda escolar das crianças de Belford Roxo.
Em vez de chorar por Daniela do Waguinho,Lula podia ter derramado algumas lágrimas pelas crianças de Belford Roxo. O município tem a 5ª pior rede de saneamento entre as cem maiores cidades do país e é uma das melhores fornidas no empreguismo. De cada dez servidores,oito entraram sem concurso,pelas janelas do nepotismo.
Um ano depois de ter sido anunciado com fanfarra,o acordo operacional da chinesa Shein com a Coteminas acabou-se num suspiro.
No mundo encantado de Brasília,a Shein se juntaria à rede Coteminas,produzindo para o mercado brasileiro e para a América Latina. O presidente da Shein para a América Latina chegou a anunciar um investimento de US$ 50 milhões e programas de treinamento. Tudo fantasia. O plano nunca saiu do papel e só quem ganhou alguma coisa com ele foram uns poucos atravessadores.