2025-01-11 IDOPRESS
Perda gestacional tem vários fatores de risco,incluindo idade da mulher e do homem — Foto: Unsplash
GERADO EM: 10/01/2025 - 21:40
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Uma ocorrência médica frequente,mas pouco divulgada por privacidade dos casais e confidencialidade dos médicos,a perda gestacional espontânea e precoce (usarei a sigla PGEP) tornou-se motivo de discussão nacional ao ser ostensivamente divulgada nas redes sociais por uma famosa influenciadora brasileira.
No Brasil,é considerada PGEP quando o embrião/feto vai a óbito sem intervenção externa,antes de 20 semanas de gestação ou com menos de 500 gramas. Descobriu que está grávida,o risco de uma PGEP é de 13%,de ter uma segunda,é 2% e de três ou mais PGEPs,é 0,7%,e 80% das perdas ocorrem antes do terceiro mês de gestação.
A idade da mulher ao gestar é o principal fator associado a esse risco; em mulheres entre 20 e 29 anos o risco é 10%,entre 40-45 anos,é 33% e após os 45 anos,57%. A idade do homem também influencia no risco de PGEPs em suas parceiras; homens entre 40 e 44 anos têm uma probabilidade 23% maior de contribuir para a ocorrência de PGEPs do que homens mais jovens,e com mais de 45 anos o risco de sua parceira ter uma PGEP aumenta em 43%. Se houve PGEPs anteriores é outro sinal de alerta; o risco aumenta 10% a cada PGEP adicional,chegando a 42% quando já ocorreram três ou mais. São também fatores de risco a mulher engravidar antes dos 20 anos,ter índice de massa corporal muito baixo ou muito alto,ser tabagista ou etilista.
Frente a uma PGEP,a tarefa mais importante do médico é preservar a saúde da mulher. Mas também é muito importante que tente identificar porque ocorreu. Quando se dispõe de amostra embrionária/fetal,faz enorme diferença se o médico solicitar o exame que com maior chance elucidará a causa,o exame genético do material do aborto. Até porque,passado o choque emocional,o casal retornará ao médico com três perguntas: “por que isso ocorreu? ”,“o que eu e/ou meu parceiro fizemos errado?”,“quais as chances de ocorrer novamente? ”. Se a investigação da principal causa não tiver sido realizada no embrião/feto já em óbito,as respostas tendem a ser imprecisas.
Em cerca de 60% dos casos de uma primeira ou única PGEP,o embrião/feto tem uma alteração genética não hereditária,e por isso a natureza não deixou a gestação ir em frente. Sendo essa situação na grande maioria das vezes não hereditária,é mais esclarecedor testar o embrião/feto do que fazer exames no casal. Solicitar exame genético em uma a cada sete gestações pode ser um exagero,mas atualmente casais planejam ter muito menos gestações e mais tardiamente do que no passado,tornando sem sentido a conduta tradicional de esperar três PGEPs para daí investigar a causa. Como nunca se sabe se a primeira PGEP será também a última,a investigação da causa pode trazer informações que previnam outras PGEPs. Em 3% das PGEPs,a investigação pode detectar causas genéticas mais raras que talvez tenham sido herdadas de um dos pais,e esta informação é de fundamental importância para determinar risco de repetição em futuras gestações.
Quando o casal descobre que uma PGEP ocorreu por um acidente genético sem relação com a genética deles próprios,e portanto sem maior repercussão para futuras gestações,isso traz uma sensação de grande alívio. O resultado do exame deve ser analisado preferencialmente por médico geneticista,dentro do processo de aconselhamento genético,quando ele vai dar as devidas explicações do porquê da perda gestacional,explicar se existe risco para futura gestação e as alternativas para minimizá-lo. Suporte clínico e confidencialidade médica,privacidade do casal e apoio psicológico,desde o momento da perda até uma próxima gestação,apoiado pelo conhecimento da causa da PGEP,são essenciais para ajudar casais a trilhar com mais facilidade o caminho para uma futura gravidez.